segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ser um em um milhão


O ano era 2001, e um décimo deixou-a de fora da entrada para uma universidade federal, pois é, um décimo, algo tão pequeno, mas que não possibilitou a ela nem um remanejamento. Teria ela que estudar novamente, nossa, que peso estudar tudo novamente. Então ela decidiu ter uma postura diferente nos estudos, de agora em diante estudaria muito bem suas eletivas, bem suas não, mas tiraria de sua vida alguns assuntos que nunca entendera, a maioria deles de matemática que pra ela era escrita em grego. E depois que entrou no cursinho não teve dúvidas que deveria selecionar assuntos, lembrava ela das aulas do professor de matemática que usava exemplos com frutas, ora bolas, se ela não entendia exemplos com números imagina com frutas, coisa do tipo: uma laranja + uma maçã = duas bananas, como assim, dizia ela aos risos. Sua estratégia deu certo. Estava indo bem nos simulados e etcs. Nossa menina também havia decidido mudar de unidade, já que seu mestre não mais ensinava na unidade do seu terceiro ano, nada mais justo acompanhar a pessoa que ela admirava e que a estimulava com suas aulas para o curso que ela havia escolhido por opção, a saber: ciências biológicas.
No dia do vestibular nossa menina cometeu um erro, não havia ido antes no seu local de prova, e... pimba, colégio errado, confundira os danados dos nomes, até estava no mesmo bairro, mas em pontos totalmente distintos, ai Deus. O bondoso motorista da van, que circulava naquela época, com pena da sua aflição resolveu ajudá-la, assim que parasse de subir passageiros, não satisfeito com sua pequena ajuda ele ainda conversara com ela por todo percurso tentando acalmá-la. Ela, o cobrador e o motorista não sabiam exatamente onde era o colégio, mas assim foram. No meio do caminho uma estudante, a salvação, estava indo exatamente para lá. Sobe aí e vem comigo, disse o motorista. Chegando no local nossa menina deu em gratidão 70% do dinheiro que tinha para o motorista e ainda pagou a van com dois vales, coitada nem notara que já havia pago. Ao subir para sua sala como um golpe do destino, sentada na cadeira atrás da sua estava sua prima, que morava tão próximo que podia chamar de vizinha. Aprendeu: nunca mais fico sem comentar sobre meus locais de prova.
Na segunda fase, a pobre menina do juízo mole, não errou o local de prova, mas conseguiu esquecer o cartão de inscrição com o número da sala, bichinha deve ser tantan, só pode.Teve então que ir a administração do bloco, subira oito andares de escada, castigo, claro. E ainda teve que procurar todos os milhares de nomes começando com a letra T, achou! Sala tal, cinco andares a menos, elevador lotado, apelou mais uma vez pra escada, seu tempo já estava curto. Ao abrir seu caderno de provas, estava lá tudinho que seus professores tinham falado na última semana de aula e no aulão de véspera. Suava de nervoso por saber tanto, percebera que o seu azar lhe trouxera sorte, sua posição na primeira fase era 108, sete pessoas na sua frente já que havia apenas 100 vagas. Parou, respirou, olhou, olhou de novo, abaixou a cabeça na prova por 5 minutos e depois mãos a obra. Delícia saber tanta resposta.
Deixou o local com a sensação de vitória.
Passaram os dias e o tão sonhado listão saiu. Nossa, e a coragem de olhar que ela não tinha. Seu pai ansioso: filha e aí? Respondera: é melhor o senhor me dar uma prancha e eu viver pro surfe. Risos dela, cara feia dele.
O fim da tarde chegara e ela ainda sem coragem foi pro banho com o coração nada calmo. De repente gritos na sua porta, era sua tia que havia visto seu nome no listão. Saiu de toalha e aos pulos, risos e lágrimas, que sensação. Conquista era o nome, minha era o sobrenome. O pai chegara à noite cabisbaixo e sem saber, chegou e nada perguntou. Ela chamou-lhe pra comemorar e tudo que ouviu foi um deixe de gracinha. Nem os seus olhos grandes mais azuis e iluminados do que o céu num bom domingo de praia e o sorriso farto fizeram-lhe acreditar, só após ligar para a tia que havia dado a notícia acreditou. E caiu em lágrimas, lágrimas de puro orgulho. Sua filha havia conquistado o principal mandamento de sua casa: Se sua única obrigação é estudar, estude e conquiste tudo que puder.
Isso tudo pra deixar aqui uma história real de quem já passou pelo momento em que a maioria dos leitores vivem. Isso tudo pra dizer que não importa a dificuldade, o tamanho e a recompensa da conquista valem à pena. O sabor de um olhar de orgulho é inesquecível e incomparável. E o dever cumprido é singular. E tudo depende unicamente de você.
Por Equipe BioblogPe

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